quinta-feira, 20 de julho de 2017

MUDAM-SE OS TEMPOS...

A minha prima mandou-me há dias esta foto. Encontrou-a perdida em algum baú, a cheirar a mofo. Não sei ao certo que idade teria mas uns 4 ou 5, talvez. Sei que sou eu, porque me reconheço, mas não me lembro desta miúda gordinha, de saia xadrez e camisola de lã às riscas (acho que não era minha, tenho ideia de a ver vestida no meu primo - da mesma idade do que eu, igualmente mal vestido).

Olho para o meu ar plácido na foto e percebo que aquela indumentária não me estava a fazer confusão nenhuma na altura. Nem isso nem o cabelo à Beatriz Costa. Como é possível? Algum dia a Carolina me deixava vestir-lhe semelhante coisa?

A fotografia agarrada a um candeeiro. As casas escuras sem luz. Móveis pesados e alcatifas poeirentas. Cresci assim. Não me lembro de alguma vez ter tido uma camisola de inverno que não fosse de lã, feita por alguma avó ou tia cheia de esmero. De manhã, quando acordava, vestia o primeiro fato de treino que me aparecia. Queria ir depressa para a rua brincar com as vizinhas. Não ligava a cabelos nem vestidos e nunca, nunca, me senti mal por ser gorducha. Era feliz assim.

A minha filha é todo o oposto. O cabelo, cheio de caracóis, só o quer solto, quanto mais esvoaçante melhor. Os vestidos devem ser de roda, "como os das princesas". Nada de calças ou calções, que detesta. No máximo leggins e túnicas. Se puder troca de roupa duas ou três vezes por dia e faz um drama quando se suja. Está sempre a pedir para pintar os lábios e as unhas e apanho-a com frequência a remexer na minha gaveta da maquilhagem, a sarapintar-se como uma macaca.

Já eu, fui-me obrigando a ser mais exigente com a minha imagem com o passar dos anos mas, lá no fundo, eu gosto mesmo é de andar despenteada e maltrapilha. Acho uma seca ter de escolher o que vestir, esticar o cabelo ou maquilhar-me e ainda sou aquela pessoa que sai com a roupa de andar em casa, óculos e chinelos, para ir ao pão ou comprar algo que esteja a fazer falta. Há coisas que nunca mudam...



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