terça-feira, 19 de dezembro de 2017

É NATAL...MAS NÃO PARA ELA

Falta-me tempo. Falta-me vontade. Esta altura do ano é sempre muito complicada. Este ano está a ser ainda mais. Entre visitas ao hospital e compras de Natal, trabalho que nunca mais acaba, treinos e sei lá mais o quê, sinto-me cansada e cheia de sono. Está tanto frio que me custa horrores sair da cama quente pela manhã. Além de que sinto que nunca durmo o suficiente. Não está fácil...

Depois é o cheiro do hospital. Aquele cheiro que traz tantas lembranças, quase todas más. Aquela cama prisioneira onde ela está agora. Os sorrisos e os beijos que me dá sempre que a vou ver. Como que a pedir perdão de cada vez que lá vou. Como se lamentasse estes anos todos em que não me ligou nenhuma. Como se afinal eu fosse importante na vida dela. E eu fico esmagada. E não consigo deixar de pensar que gostava muito que tivesse sido assim há 30 anos atrás.

É uma confusão. É uma angustia. Por tudo mas, sobretudo, pela tristeza que é vê-la assim diminuida nas suas capacidades físicas e, no entanto, perfeitamente lúcida. Pena por ter que a deixar passar o Natal ali, naquela cama de hospital, até sabe Deus quando. Pena de a ver tentar, uma e outra vez, falar comigo sem ser capaz de articular uma única palavra. Pena porque gostava que fosse diferente. Oh, como gostava!

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