Depois é o cheiro do hospital. Aquele cheiro que traz tantas lembranças, quase todas más. Aquela cama prisioneira onde ela está agora. Os sorrisos e os beijos que me dá sempre que a vou ver. Como que a pedir perdão de cada vez que lá vou. Como se lamentasse estes anos todos em que não me ligou nenhuma. Como se afinal eu fosse importante na vida dela. E eu fico esmagada. E não consigo deixar de pensar que gostava muito que tivesse sido assim há 30 anos atrás.
É uma confusão. É uma angustia. Por tudo mas, sobretudo, pela tristeza que é vê-la assim diminuida nas suas capacidades físicas e, no entanto, perfeitamente lúcida. Pena por ter que a deixar passar o Natal ali, naquela cama de hospital, até sabe Deus quando. Pena de a ver tentar, uma e outra vez, falar comigo sem ser capaz de articular uma única palavra. Pena porque gostava que fosse diferente. Oh, como gostava!
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