quarta-feira, 8 de julho de 2020

FINALMENTE...TOMÁS

FINALMENTE...TOMÁS

3 DE JUNHO DE 2020 – 03:18
Acordo com aquilo que me parece ser uma descarga vaginal. Isso ou mijei-me ligeiramente. Levanto-me e dirijo-me ao WC, cheia de sono. Ao entrar na porta sinto como se um balde de água quente me escorresse pelas pernas abaixo. Fico alguns segundos a olhar para o chão, a tentar encontrar uma justificação para o que acabara de acontecer, só porque não queria sequer imaginar que pudesse ser aquilo que, na verdade, eu sabia que era. Chamo o Ricardo e mal chega ao pé de mim, nova descarga, só para ele ter a certeza de que eu não estava tola. Não tinha qualquer dúvida, era rotura de bolsa, às 34 + 1 semanas. Só me lembro de dizer “ainda falta muito, é muito cedo” e do Ricardo me pedir para ter calma. Avisei os meus pais e segui para o CMIN, onde me parecia ser o melhor sítio para o Tomás nascer e também porque, no fundo, eu sabia que não o traria para casa tão cedo.

18 HORAS ANTES
Acordo e vou ao IKEA escolher os móveis do quarto das miúdas. Não estive lá mais do que 20 minutos. Em casa, foi um dia normal, falei com a Kelinha ao telefone e lembro-me de lhe dizer que tinha uma certa pena de induzir o parto porque gostava de viver a experiência de um parto espontâneo, com rotura de bolsa, contrações, etc. Ao fim da tarde fiz pizzas para o jantar. Que boas que estavam! Antes de me deitar pus os produtos de higiene dentro da mala de maternidade e fechei-a. Estava pronta, finalmente, um mês e meio antes da data prevista para o parto.

Quando me deitei sentia uma dor tipo muscular no fundo das costas. Nem uma contração. Nada que me fizesse suspeitar o que estava prestes a acontecer.

3 DE JUNHO DE 2020 – 04:00
Dou entrada num CMIN vazio, completamente ensopada, enquanto vou deixando um rasto de líquido pelos corredores por onde passo. Faço teste para COVID-19 e inicio CTG. Confirma-se que é perda de líquido, 1 cm de dilatação, bebé a caminho.

As horas vão passando, chamam o pai para fazer o teste à COVID-19 mas nem nos cruzamos. Ele fica lá fora à espera de poder entrar e eu sozinha, numa sala. Se pudesse descrever este parto numa palavra acho que diria solidão. As horas vão passando e às 18:00, com 4 dedos de dilatação, iniciam a indução. Vou para o núcleo de partos onde me administram a epidural. Não estava com grandes dores mas deixei de as sentir de todo. Acho que adormeci entretanto. Às 21:00 tinha 6 dedos e deixaram entrar o Ricardo. Ainda vimos o Porto perder por 2-1 com o Famalicão. Por volta da 01:30 do dia 4 comecei a tremer muito e percebi que estava com a dilatação completa. Aconteceu o mesmo da Carolina. A enfermeira confirmou a minha suspeita e desde o momento em que comecei a puxar até o Tomás nascer passaram 10 minutos e apenas 3 puxos. Às 2:05 do dia 4 de junho nascia o meu Tomás, com 2390 e 44 cm. Quis nascer no mesmo dia da irmã. O choro do bebé foi uma experiência nova para mim e totalmente emocionante. Não pude conter as lágrimas, não só pela felicidade daquele momento tão inesperado, mas porque sabia que em breve me levariam o meu bem mais precioso. 

Estive com ele apenas 5 minutos e passados outros 5 também o Ricardo teve de ir embora. Não lhe toquei, não o cheirei e mal o vi antes de o levarem. Às 2:30 estava sozinha novamente, no mais absoluto silêncio, à espera que me viessem buscar para ir para o quarto. Um quarto onde me esperava um berço vazio.

O recobro foi muito rápido, a placenta saiu inteira e não me fizeram episiotomia. O bebé lacerou ligeiramente ao nascer mas levei apenas um ponto. Grande sorte com a equipa médica, só tenho a dizer bem, mais uma vez.

No dia seguinte só pude ver o Tomás das 15:00 às 19:00 (normas COVID). Lá estava ele, minúsculo, dentro da incubadora, deitado de bruços, apenas com uma fralda de pano nas costas. Foi a primeira vez que o peguei no colo. Tinha mamado o que era suposto, respirava bem e estava apenas a fazer antibiótico por causa da perda de líquido. Tudo indicava que dentro de poucos dias estaria em casa.

Só que na neonatologia, muitas vezes um dia bom antecede um dia mau, e assim foi. No dia seguinte, o Tomás teve que introduzir uma sonda porque não conseguia mamar. Não estava à espera daquilo e desatei a chorar assim que o vi. A enfermeira foi muito compreensiva e ajudou-me muito. Mães a chorar é o prato do dia da neonatologia. Cheguei ao quarto nesse dia e comecei a tentar tirar leite, agarrada à bomba como uma louca. Não ligava a televisão e punha-me a olhar paras as fotos que lhe tinha tirado durante o dia mas estimular. Lá fora ouvia-se o choro dos bebés acabados de nascer. Eu, sozinha dentro das minhas quatro paredes, chorava com eles.

Entretanto o dia da alta chegou. Percorri aquele corredor de mala na mão e cabeça baixa, com um nó na garganta. Despedi-me das enfermeiras que tinham sido o meu único amparo naqueles dias sem visitas. Cheguei a casa sem barriga e sem bebé, olhei para o berço vazio e desabei. Nesse dia chorei descontroladamente até adormecer.

Depois disso os dias foram passando, uns melhores, outros piores. Decidi que a minha forma de lidar com o sofrimento era isolando-me, por isso deixei de atender telefonemas. Na verdade não tinha energia nem disponibilidade mental para mais nada, a não ser tirar leite, ir para a neonatologia todos os dias, e preparar tudo para a chegada dele. 

Quando regressava da neo, ao final da tarde, vinha sempre confortada com o carinho e dedicação com que via as enfermeiras cuidarem dos bebés, como se fossem família. É preciso vocação.

Na véspera dele ter alta arrancou a sonda, como tantas vezes fazia, e eu pedi para não lha colocarem porque enquanto eu lá estivesse ele mamava no peito. Uma médica que estava de serviço disse “pode ser que seja a sorte dele”. E foi. No dia seguinte o Tomás tinha alta e trouxe-o comigo para casa. A partir daquele dia, começava uma nova vida e eu renascia.
Os 15 dias em que esteve internado foram, sem dúvida, os mais tristes da minha vida. Agora já passou e é sempre a melhorar. Mama muito bem e é um bebé muito tranquilo. É uma alegria, cheio de luz. Um amor gigante que eu achava que só teria pela Carolina. Felizmente o coração de uma mãe é elástico e o amor não se divide, só se multiplica.







 














1 comentário:

  1. É a cara da Carol, Daniela. Que testemunho arrepiante. Agora já passou e podem finalmente ser felizes. Um beijinho e tudo a correr pelo melhor sempre. Beijinhos Sara Moreira

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