quinta-feira, 2 de julho de 2015

PORTO DE CHEGADA

A vida tem coisas que nos fazem pensar e por isso recupero um momento que me aconteceu há quase 10 anos. Um daqueles momentos que ficam. Um daqueles momentos em que percebemos a importância das coisas. Um daqueles momentos que nos fazem, de forma súbita e improvável, mudar de perspetiva...

Chove torrencialmente, venho há 1 hora a conduzir, o trânsito atormenta-me desde Espinho e não vejo a hora de chegar a casa e tirar os sapatos molhados.

Sexta-feira, esse dia mágico, extraordinária convenção da sociedade que nos dá dois dias de descanso. Vivo a semana à espera da Sexta-Feira, como se toda a Natureza unisse esforços para esse dia tão perfeito que é o Sábado. 

Paro em cima da Ponte da Arrábida, o vento é tão forte que sinto o chão estremecer. A noite já caiu.  A chuva cai implacável e levanta um fumo que me cansa a vista. Ao longe, as luzes da minha cidade, e um cartaz no meio da neblina que diz "Porto de Chegada". 

Parada no meio da ponte, rodeada de carros, sou invadida por uma sensação de bem-estar, um arrepio saboroso enquanto contemplo, deliciada, os contornos do meu Porto. Aquele pedaço de terra é meu, é o sítio onde nasci, é a minha casa, é o meu lugar no mundo. 

Razão tem o Carlos Tê quando diz que "é sempre a primeira vez cada regresso a casa". 

Embrenhada nesta sensação inexplicável prossigo o meu caminho. O trânsito deixou de ter importância, o temporal e as horas também, simplesmente por um motivo...eu já tinha chegado a casa.


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