quarta-feira, 13 de abril de 2016

A FALÊNCIA DO SNS

Passei os últimos dois dias na urgência de um hospital público, mais concretamente o Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos.
Saí de lá completamente chocada.
Entrei à 1h da madrugada, com pulseira laranja, a segunda mais urgente e, verdade seja dita, fui atendida de imediato. Queixava-me de dor abdominal forte e deram-me logo medicação para atenuar. Fiquei mais confortável. Fiz análises ao sangue e avisaram-me que teria de esperar pela manhã seguinte para fazer uma ecografia. Deitei-me numa maca e lá fiquei, a tentar dormir para o tempo passar mais depressa. De manhã, às 9h00 o serviço estava calmo. Fiz a ecografia e novas análises ao sangue mas os valores alterados das análises obrigaram a que a minha estadia se prolongasse mais que o previsto. E assim fui ficando, na mesma maca, noutro corredor. Corredor esse que começou a encher-se de gente por volta da hora do almoço e às 16h00 estava em colapso total. Macas de um lado e do outro, cadeiras de rodas, a sala de espera sem uma única cadeira para alguém se sentar. Os acompanhantes em pé, nos corredores junto dos doentes, na sua maioria idosos, alguns dementes. Muitos gritos, pessoas aos vómitos, ossos partidos. Pessoas a reclamar por não serem atendidas. Vi de tudo naquela tarde. E só dois enfermeiros, vermelhos como tomates de tanto correr. Não os vi sair para comer. Pediam desculpa por estarmos no corredor.
- Eu sei que estas condições são desumanas mas não temos mais nenhum sítio - desculpavam-se.
Senti pena, pena das condições de trabalho miseráveis daquelas pessoas. Pena daquilo em que se transformou o nosso sistema nacional de saúde.
O dia findou e eu não teria outra alternativa que não ficar no corredor novamente, mais uma noite. Estava cansada, agoniada com toda aquela miséria, farta de ver e ouvir pessoas com queixas. A médica percebeu o meu estado de espírito e sugeriu que fosse passar a noite a casa, uma vez que durante a noite não iria fazer qualquer tratamento. Assim fiz. Tomei um banho, dormi na minha cama e às 9h00 da manhã já lá estava de novo. Nada se parecia com o hospital que tinha deixado na noite anterior. O dia foi agitado mas em nada comparado com aquela segunda-feira.
Nessas 48 horas em que estive no SU, não encontrei um único profissional antipático ou menos atencioso. Desde auxiliares a médicos, passando por enfermeiros.
Vi pessoas esforçadas, a trabalhar sem condições e lamentei profundamente que nenhum dos nossos governantes tenha de passar por isto quando tem um problema de saúde.

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