segunda-feira, 29 de julho de 2013

O gay...

O R. é uma pessoa tagareleira. Gosta de conversar, pronto! Mete conversa com desconhecidos como se os conhecesse há anos e conta-lhes a vida toda. Eu já sou completamente o oposto.
Um belo dias nestas férias, quando chegamos à praia, e depois de terminar o meu ritual de passar protetor solar pelo corpo, não vi o R. Levantei-me, espreitei e lá estava ele junto à água a conversar com um tipo (chamava-se Miguel, como vim depois a saber).
Como estavam de costas para mim não consegui ver a cara do tipo com quem ele falava, mas pareceu-me ser um gay que eu já tinha topado há uns dias e que tinha como companhia outro gay, esse sim cheio de tiques, e que não deixava margem para qualquer dúvida.
Aparentemente o R. não se apercebeu disto e a conversa entre ele e o gay à beira mar prolongou-se por mais de uma hora.
Atenta, sentei-me na toalha  com os óculos de sol a tentar localizar o outro gay. Não demorou muito. Lá estava ele de crista no ar, com semblante indignado a olhar para a conversa dos dois senhores junto à água. "Isto promete", pensei eu. Fiquei atenta a todos os movimentos, porque me parecia que a qualquer momento o gay que estava na toalha se ia atirar ao R. qual leão enfurecido em defesa da sua companheira.
Os movimentos do gay na toalha eram hilariantes, ele coçava-se, deitava-se, levantava-se, olhava para eles, olhava para mim (como quem diz "tu estás a ver esta depravação e não fazes nada?"). Eu tentava controlar o riso, mas estava a adorar aquela cena, sobretudo porque tinha a certeza que o R. não se estava a aperceber de nada. Estava a morder-me por lhe contar e ver a reação dele.
Depois de muito se esfregar na toalha, o gay decidiu ir correr na praia. Não podia continuar a assistir àquele espetáculo e ver o seu companheiro ser descaradamente assediado por outro homem.
Passados uns minutos, também eu resolvi ir à água e foi quando o R. abandonou o companheiro de conversa e veio ter comigo.
Digo eu "Então, já fizeste um amigo gay?"
Diz ele "Gay? Quem?"
Digo eu "O tipo com quem estavas a falar é gay"
Diz ele "Ah não é nada, lá estás tu com as tuas invenções"
Digo eu "Estou a dizer-te que é gay e está acompanhado do namorado, que deve ter achado que te estavas a atirar ao outro e até foi correr na praia para se acalmar"
Diz ele "Estás a brincar..."
Nem de propósito, avisto ao longe o outro gay em ofegante correria, já de regresso. Passa por nós e uns metros adiante lança-se ao mar. O outro gay com quem o R. tinha estado a conversar, e que entretanto tinha ido para a toalha, pressentindo o aborrecimento do namorado, lança-se também à água indo ao encontro dele. Mas o outro estava mesmo zangado, não quis conversar, olhou-o com fúria e afastou-se.
O R. assistiu à cena, incrédulo, e não foi capaz de proferir uma única palavra.
Entretanto, os gays foram embora em clima de grande tensão, e após um longo silêncio, o R. olha para mim e diz "ele não era gay pois não?". Não pude conter o riso naquele momento. O rapaz tinha estado quase uma hora calado a processar o acontecimento. Aposto que nunca pensou que ia ser protagonista de uma cena de ciúmes entre um casal gay. Eu, confesso, estava deliciada com aquilo e estava quase a chorar de rir.
Depois do almoço o casal gay voltou à praia. Mirei-os ao longe e pareciam já ter feito as pazes porque  trocavam sorrisos. Com ar de gozo, fui avisando o R. "Olha que estão a chegar os teus amigos gays, já fizeram as pazes por isso não metas nojo". Ele riu-se, enterrou a cabeça na toalha e só a levantou quando teve a certeza que eles já estavam fora do alcance da vista. :)

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