terça-feira, 7 de maio de 2013

O outro amor

Eu tinha 5 anos quando o meu pai me tornou sócia dessa grande instituição que se chama Futebol Clube do Porto. Lembro-me bem. Tinha um cartão enorme, branco, com a minha fotografia sem dentes e cheia de sardas ao lado do símbolo do clube e onde por baixo podia ler-se INFANTIL. Uauuu...como me enchia de orgulho aquele cartão. E como eu gostava dos domingos passados nas Antas, sentada ao lado do meu pai numa almofada desdobrável, que também me foi oferecida, e que qualquer adepto que se dignasse tinha que ter. E eu era uma adepta a sério! Nos dias de jogo levava sempre uma lancheira de palha, que eu adorava, onde a minha mãe colocava pão e sumo para o lanche, às vezes um Bollycao, e que depois eu enchia de rebuçados e chiclets Gorila, que comprava com moedas de 2,5$ no café por baixo de casa. Por vezes, também assistíamos a jogos de outras modalidades mas não tenho grande memória desses eventos. O que eu gostava mesmo era de ver o futebol. Uma bela tarde de verão (estava mesmo calor!), pedi ao meu pai 50$ para comprar uma garrafa de água ao vendedor que ia a passar junto ao relvado. Nós estávamos sentados sensivelmente a meio e a descida era pacífica, mas teria uns bons 30 degraus para subir depois. Nada que fizesse parte das minhas preocupações aos 7 anos. Enquanto corria escada abaixo com a moeda na mão ouvi o meu pai resmungar ao longe "Vais cair, Daniela!". Num ápice cheguei ao relvado e comprei a garrafinha de água. Na corrida da subida, sensivelmente a meio, e como já era gordita nessa altura, tropecei e estampei-me. A garrafa de plástico rebentou e o meu joelho esquerdo bateu mesmo na esquina do degrau. Epá, que dor do caraças! Antes de me ter conseguido levantar o meu pai já se tinha precipitado escada abaixo e estava junto a mim. Um joelho em muito mau estado e uma mão esmurrada davam direito a um regresso a casa antecipado para uma sessão de curativos. Resmunguei. Não queria ir embora. Nem tinha bebido a água e ainda faltavam 45 minutos de Porto. Não adiantou. Essa foi a única vez que abandonei um jogo do FCP antes do final da partida. Entretanto fui crescendo, fomos ganhando tudo o que havia para ganhar e essa paixão que me enche a alma, e que é algo que há muito deixei de tentar explicar, tornou-se parte da minha vida. Sei que sou uma pessoa muito mais feliz por ser Portista. Este sábado queria estar no Dragão, queria fazer parte daquela massa humana que vai estar a apoiar os nossos jogadores, fazendo-os acreditar que afinal ainda é possível sermos Campeões. Podemos não ser capazes, afinal tudo o que podia correr mal ao longo da época correu...mas queria tanto poder lá estar! Não vou estar. Não tenho o dom de controlar as minhas emoções, sobretudo no que ao FCP diz respeito. E por isso vou ficar em casa, e nem vou ver o jogo para não sujeitar a minha pequena pulga a tamanho stress. Também um dia quero poder levá-lo(a) ao estádio e quero que ele(a) sinta essa magia que é ser Portista!

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